sexta-feira, maio 20, 2005

qualquer coisa de bom

são tantas as coisas boas que o Mundo tem para nos oferecer. são tantas.

para ler. “Qualquer coisa de bom”, é bom de se ler. é uma sobremesa sonhada, daquelas que raramente nos vêm à mesa, mas que nunca nos cansamos de imaginar. até ao dia em que, sonho ou não, conseguimos dosear as quantidades certas de moca, chocolate e baunilha e nos servimos a nós próprios de um doce beijo.

para ver e ouvir. fazedores de ambientes, criadores de viagens: marinheiros, aventureiros, sempre os primeiros, em terra ou no mar. recriam auroras, os sons do mar, os pássaros, o vento, entre sinfonias inéditas e clássicas, num abraço caloroso à música, num abraço apertado ao fascínio. o som liso e doce, o som majestoso e forte, de uma centena de instrumentos afinados a uma só voz. a banda da armada, em paz e em terra, num concerto absolutamente encantador.

para sentir. o doce salgado do mar, o prazer dos teus lábios.
porque o Mundo tem muitas coisas belas para nos oferecer. basta estar atento.
das ondas e do mar

quinta-feira, maio 12, 2005

à espera

com a certeza das horas que pintam rugas, vincam gestos e acenam despedidas, fico com a sensação estranha de que o Mundo é incapaz de ser feliz.

nos arvoredos da serra, por entre os ziguezagueados caminhos de asfalto comido, encontro pequenos pedaços de madeira caídos, troncos esquecidos, cavacas sem cavaco e folhas tristes. o chão brilha de vez em quando ao sabor do vento, sorri quando vê o sol.

e na minha paz interior, reflectida nas telas de um Homem capaz de conquistar-se a si próprio, de azul celeste, de vermelho fogo, de cor e de sal, há um infinito medo da próxima manhã. acreditem, sinto medo das falésias, do que acaba e se afunda no mar. medo do sol não me sorrir como hoje.

porque sei que ninguém é feliz eternamente. porque há sempre manhãs doces, amargas, há sempre emoções, dores, beijos, dias, horas. porque me ensinaram o significado de carpe diem, mas não me disseram que viver pode ser tão humanamente mágico.

terça-feira, maio 03, 2005

acreditar

há sonhos que não passam dos primeiros raios de sol. finam-se nas manhãs, perdidos nas loucuras da noite, entre um suspiro e uma estrela mais brilhante. os sonhos não gostam de dúvidas.

senti naquela hora que as minhas lágrimas sabem a sal. pude ver o meu rosto feliz reflectido nas palmas e nos sorrisos da plateia. nos abraços que se seguiram senti o reconhecimento e o cansaço, pela primeira vez, deu lugar à paz.

como é bom ver as luzes que se apagam depois das emoções vividas, depois dos sons nos trazerem de novo ao pequeno teatro. a verdade é que as pancadas de Molière ouviram-se mesmo. o texto batido ao longo dos dias vestiu-se de formas, ganhou voz e soube até questionar a verdade. porque é disso que se trata: uma verdade que dói.

se fosse fadista hoje cantaria. valeu a pena. pois é, vale sempre. porque há deles - os sonhos - que se realizam. basta não desistir e acreditar.

e é isto que, sem dúvidas como nos sonhos, faremos sempre que subirmos ao palco. até que a alma nos doa.

num palco escondido por aí. teatro de amadores, mas só porque quem faz também ama e sofre.