domingo, outubro 31, 2004

quem apagou a luz?

De repente, ficamos sem luz. Assim sem quê nem para quê. Mas ainda é tão cedo. Para que raio foi o autor do texto mudar a hora? Agora é domingo, estamos a meio da tarde e lá fora, no palco, não há luz. Se calhar foi o cenógrafo que se esqueceu de pintar o sol. Ou terá sido este que perdeu o brilho?

agarrem-no (Acto I)

A peça já vai longa. As emoções andam à flor da pele. É um diz que disse, ao som das deixas lançadas pelo ponto, que atiçam a personagem. E ela, a dar corpo e alma ao mau da fita, lança do pior que há em si, e quem sabe nos Homens todos, e lança o pânico sobre o palco da acção. Vidros partidos, mesas reviradas e tudo isto num sábado à noite. Vêm os polícias, que quase sempre têm lugar nestes enredos, e, sob a ameaça de um cacetete bem mandado, lá vêm por tudo em pratos limpos - dos que sobraram, é claro - e dá-se por encerrado o acto. O intervalo dá para mil e um comentários, frases exclamativas, interrogativas e, porque não, imperativas. Até à próxima acção. A vida é mesmo assim. Imita o teatro e dá aos homens os mais ridiculo dos papéis: o seu. Ao vivo e a cores.
Ricardo Manuel Santos

sábado, outubro 30, 2004

dia de estreia

Sinto a pele suada. O coração bate, bate e, por cada segundo que passa, o ritmo aumenta ainda mais. A estreia está à distância de breves minutos. Que correm tão velozmente como o coração. E eu quero, anseio aquelas tábuas. Aquela outra vida. A que fica para lá de nós, mas que de nós se serve para respirar, amar, beijar, sofrer, cantar, dançar, cair e morrer. Olho o relógio uma vez mais. Ouço a voz do contra-regra. E as pancadas.

"Sete pancadas, mais três
O pano sobe, entra o actor,
Tem papel, seja o que for,
Que só acaba de vez
Quando o pano fechar
Ou quando a peça acabar

A vida é um teatro
Do elenco ao salão farto
Temos de representar
No palco do realismo,
Fantasia ou fascismo

No palco como na vida
Na pessoa por nós vivida
Há sempre amor e sorte
Há um momento de magia
Que nos sai da fantasia
Desce o pano...
chega a morte!"
Armando Dias

O pano já subiu. Agora sou só eu e o público. Eu e vocês. Neste teatro das palavras.

Ricardo Manuel Santos