o mar azul-esverdeado espraiava-se à sua frente como um lençol de seda disposto a acolher os corpos que se amam, loucamente, num jogo de sedução entre a volúpia e o desejo. a areia escaldante lembrava o sol abrasador que, lá do alto, vigiava, através dos seus raios cor de fogo, os movimentos na praia. e o seu olhar demorado, triste, contrastava com a alegria das ondas que como crianças corriam para lá e para cá, continuamente, sem sinal de cansaço.
inesperadamente, ou talvez não, uma mão poisou-lhe delicadamente sobre o ombro como uma pena que, vagarosamente, se deixa embalar pela suave dança da brisa marítima até cair, como algodão sobre veludo, nas águas mansas de um lago. o seu ritmo cardíaco disparou e dentro de si rebentou um turbilhão de sentimentos.
ela não precisou desviar o olhar das águas mansas à sua frente; sabia que aquele toque representava o fim da ansiedade que lhe apertava o peito e um motivo mais que forte para se deixar de lágrimas e suspiros. o amor, tantas vezes reprimido até ali, tocava-lhe, despia-se perante ela, fazendo com que a sua pele se arrepiasse num extâse mudo, e deixava antever um pôr-do-sol muito mais doce.