segunda-feira, outubro 17, 2005

gotas de sal

quantas mais vezes tentava esboçar um sorriso, mais o teu olhar se confundia com o mar. e nesses instantes entre a realidade e o sonho, quando sei estar perto do fim o céu, nunca conseguirei tirar do dicionário [ou da alma] palavras que cheguem [ou que falem somente].

impotente. o teu sofrimento alimenta a minha inadaptação à dor, aos teus olhos manchados de angústia, ao teu rosto coberto de sal. não fosse a chuva miudinha que, por agora, me lembra o sangue quente que ainda corre e, neste momento, seria uma bola de fogo, de raiva, quem sabe o furacão agreste que [felizmente] nunca senti, rumo à explosão final: um rebentamento de mim.

e por favor – eu sei que consegues – não me fales do sol que vai voltar a nascer. mostra-me antes o brilho dos teus olhos por entre as gotas que te vincam a face. e deixa-me sentir nos teus lábios o sabor da vida, a certeza de que, juntos, duas cerejas inseparáveis, beberemos, já esta noite, essas lágrimas como um cocktail doce, suave e sem álcool.

foto: ["ashes everywhere", sweetcharade, 9.10.05]

7 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
BlueShell disse...

A tua escrita estácada vez mais requintada, mais cativante. Adorei este texto. Jinho terno, BShell

Rosa Cueca disse...

não gosto de sal na cara...
estou cansada de ver essas gotas...
um beijo garnde :)*

Elsa disse...

já tinha saudades das tuas letras...
bjs de boa semana!!
(e não te esqueças... dia 23 ;-)

Patrícia Mota disse...

Foi queda cada palavra que lia. Como se entrassem no meu sangue. Sinto-me percorrida, trespassada, pela vontade inutil que alguem um dia me saiba escrever assim. Era tão bom ser transparente e deixar que o brilho do sol fosse o nosso brilho...

Era tão bom e tão distante.

Um beijo