sábado, fevereiro 26, 2005

felicidade efémera

a felicidade acontece tão pouco / que quando nos bate à porta alegramo-nos / deixamos que nos invada o corpo / e feito pássaros voamos, voamos

para lá do céu azul e maior / vamos sem sermos nós, despidos / das roupas do mundo pior / que nos trazem atados, vestidos

gritamos ao vento que a vida é sol / na praia deitamos a mão ao mar / enroscamo-nos na luz do farol

pescamos na escuridão o luar / e trazemos a felicidade num anzol / até que a manhã nos venha acordar

>> RS/10-06-2003 >>Foto "Segredos da Lua"

terça-feira, fevereiro 22, 2005

acordar

ainda não era manhã. ou pelo menos ainda não havia luz suficiente para poder moldar o brilho do dia ao teu rosto. a tua pele na minha pele. o meu sono perdido nos teus cabelos.

bom dia. sim, vai ser um bom dia. um magnífico dia. até dispenso o pequeno almoço de sumo de laranja natural, croissant misto, doce de marmelada e chocolate. dispenso (repudio até) o relógio despertador, importado de um oriente remoto, que insiste em correr os números e com eles o tempo. e fico aqui. porque aqui está-se bem.

há muito que a tua voz deixou de me falar. apenas distingo as melodias doces que os teus lábios sabem tocar. e as canções são já um mundo de fantasia. dizes-me que "a culpa não é do sol se o meu corpo se queimar". respondo-te que tens razão: "a culpa é da vontade que eu tenho de te abraçar".

não somos nós, somos humanos. e os humanos têm vidas. dispensamo-las. e connosco hão-de ficar os sonhos, hão-de morrer os sonhos, e a vontade de que, onde quer que estejamos, as manhãs sejam de geleia.

e que as manhãs sejam de geleia, sejam de sol, sejam de chuva, sejam de mar, sejam de terra. mas que sejam contigo nos meus braços. porque adormecer assim, amanhecer assim, até parece mentira. tudo mentira até os teus beijos terem sabor de verdade
.

o sono dorme-se aqui. "a culpa é da vontade", Humanos

sábado, fevereiro 12, 2005

antecéu

gosto quando me roubas o corpo e de oferta te dou a alma. e adoro quando passamos as madrugadas a dançar ao som das músicas que compus para ti. e dos beijos que me dás às escondidas da luz.

lá fora, as estrelas tremem de frio e por aqui tu fazes de sol. adoro sentir-e a personagem e arder a teu lado. neste palco de rosas.

uma limonada, um copo de água, um bombom e o jornal diário. a tua foto, o teclado, os documentos para informar e as horas que voam, sem asas, até aos teus lábios. cena após cena, dia após dia.

quando chega a praia e te dás ao mar fazes de onda. e eu espero ansioso na praia até que me toques a pele, para depois me banhar em ti.

neste acto final, o tecto das nossas vidas fez-se de céu. e eu, marioneta do teu amor, adoro pular tocando com os cabelos nas nuvens, sem medo de cair.
porque sei que o teu colo será sempre um bom refúgio.
o céu mora aqui

domingo, fevereiro 06, 2005

sim, eu sei

hoje o sol pôs-se nas minhas mãos. e não sei porquê sinto-me a arder por dentro. desejo este mar que rebenta dentro de mim. e desejo que os dias sejam nas noites o doce dos teus beijos.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

aviso de flores

é preciso avisar toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir
é preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha
é preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta
é preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
é preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores
João Apolinário, in "Morse de Sangue"
flores apanhadas aqui

porque no dia em que começa a campanha para as legislativas de 20 de fevereiro é preciso avisar toda a gente. mais flores mais flores mais flores.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

desejo

esta noite vou comemorar o amor
dançar nas ruas como um louco

vou trincar pautas de música
partir pedras e plantar rosas

vou chorar as tuas partidas
incendiar fogueiras de paixão

vou beber dos teus beijos
e dormir do teu sono

vou calar os meus desejos
fazer do amor o meu dono

vou dar corda ao coração
plantar flores no teu peito

dizer sim ao teu silêncio
cobrir de pétalas o chão

vou amar o que não aceito
sonhar-me nos teus lábios

esta noite vou beber licor
e saciar-me do teu corpo