domingo, outubro 29, 2006

condução perigosa

o vento açoita-me a face impiedosamente enquanto perscruto o horizonte na incessante busca de respostas. tenho esta necessidade intrínseca de querer saber o que existe por baixa da areia da praia, para lá das águas salgadas e da crosta terrestre. eu sei que há – tem que haver! – uma energia qualquer presa entre as placas teutónicas que nos faz andar cá em cima neste completo desatino, bêbados de emoção, alienados da realidade.

o poeta que me acompanha deu-lhe um apelido curto e simples. fala em quatro letras e num termo que qualquer aluno da quarta classe facilmente faria rimar com dor, calor, ardor ou mistério. a verdade é que para os que se dizem adultos esta palavra é mais difícil de compreender [e aceitar] do que para qualquer criança.

entre uma partida e uma chegada, as ondas trazem-me o som abafado e quente do Represas, descrevendo com uma simplicidade extrema a complexidade dos meus sentimentos. diz ele que “às vezes até parece que amamos fora de mão”. o certo é que mesmo sabendo do risco de ficar irrevogavelmente inibido de conduzir existe esta força gravitacional que me impede de fazer inversão de marcha.
imagem: [Cris]

1 comentário:

Lunna Guedes disse...

Numa visita breve, preenchida com gotas recém derramadas pela chuva da manhã...
Um abraço junto ao vento que passa e faz festa pelos meus castiçais.
Luna Guedes em visitas matinais