sexta-feira, novembro 03, 2006

crónica do homem da gravata

são às dezenas as folhas moribundas depositadas no solo. jazem amarelecidas, ressequidas, viúvas e tristes. são como almas sem vida, corpos sem alma, sopros sem rosto. matéria morta à disposição do homem da gravata.

os homens também caem como as folhas. depositados no meio de tantos outros, um entre tantos, um número apenas. são como almas sem vida, corpos sem alma, sopros sem rosto. matéria viva à disposição do homem da gravata.

dispõe o homem da gravata do homem caído e das folhas mortas porque se abriga no tronco da árvore-mãe. sem pejo do sofrimento perfura a carne e instala-se depois no cepo oco. e fuma confortavelmente de nós.

o homem da gravata só não sabe que também a árvore morrerá um dia.
imagem: [«Outono», Ricardo Manuel Santos]

2 comentários:

NickyBlue disse...

Olá!
Muito bonito esse texto!
Já leste "A fórmula de Deus"?
Quando lhe puser as mãos vou devorá-lo... ;)

☆Fanny☆ disse...

Muito feliz por saber-te de volta!!!

Um abraço de estrelinhas*

Fanny