sexta-feira, dezembro 01, 2006

caminho(s)

abertos os olhos e o que vejo é a imensa estrada ziguezagueando vegetação adentro, ladeada pelas coisas da serra e da cidade mais ao fundo. continuo a conduzir devagarinho e continua também o desfilar incessante das coisas e das loisas que me ocupam o pensamento, já de si demasiado ocupado com tantas outras coisas e loisas que a vida nele foi depositando.

não encontro razão para a solidão que me acompanha silenciosa no banco do pendura, nem lhe acho atractivo demasiado belo para o inaudito convite que a fez tomar a minha companhia nestes caminhos intermináveis pelas horas do passado, sem ti e contigo, ou ainda pelos trilhos diários em busca da incessante resposta à pergunta que não sei fazer.

vou e simplesmente não sei porquê. julgo a minha vida vazia como a estrada e talvez antes preferisse acompanhar-te num hipermercado apinhado de ratos consumistas na febre encantada das compras de natal ou então esperar, naquela esplanada junto ao mar, pelas imperiais fresquinhas que os camaradas da boémia já pediram enquanto se babam, como eu me babo, admirando os anjos e os diabos, de corpo esbelto e provocante, que se passeiam entre as mesas, ou então talvez não preferisse nada disso. afinal, a pouca certeza das muitas incertezas é que tudo me escapa pelos dedos e o que fica é o pouco que este corpo ocupa.

o caminho continua e a gasolina gasta-se como o tempo, agora que ambos estão tão caros, enquanto a espera desalmada e o ruído do silêncio me incomodam e servem os pérfidos interesses da insatisfação que de mim se serve como se eu não fosse mais do que um simples parque de diversão. talvez ainda chore antes de chegar.
imagem: ["caminhos", de Ricardo Manuel Santos]

4 comentários:

Conceição Paulino disse...

se olhares atentamente verás k smp alguém viaja a teu lado, no banco do pendura, ou do navegador...
Bj
Luz e paz em teu caminhar
Bom f.s

Anónimo disse...

Então migo...

Podias-me ter convidado, assim o banco já não ia vazio....
Qdo é que transpões todos esses pensamentos no papel para editar um livro quisá . . .
Bjocas gdes. Vanessa

Susan. disse...

Vai mau isso!?
Deixa lá... Isso faz parte das verdadeiras viagens, do real viajante que sabe, ou sente, que tudo é efémero, quiçá ilusório; que a vida consiste em movimento humano e que para além do espaço próprio que ocupa nada lhe pertence (nem o outro no banco do lado, nem o pp banco do lado, nem a paisagem, nem as pedras do caminho, as montanhas no horizonte ou o rio lá ao fundo...),coisa nenhuma lhe pertence realmente, e quiçá se existe; mas que, ainda assim, não deixa de "babar", à passagem, por essas paisagens.
É feio, mas sabe bem! ;)

Lunna Guedes disse...

E segue a estrada com ou sem pegadas, minhas ou suas... Segue rumo a um horizonte que se renova tanto quanto os nossos sonhos...
Ah! Esse retrato de asfalto que fascina ou de terra que encanta... Deu até vontade de comprar uma moto e me perder por aí...
Abraços

Ps. Tentei comentar outro dia, mas meu computador enlouqueceu e travou. Perdi o comentário e a paciência, recobrada há pouco (risos)...