sexta-feira, março 25, 2005

velhos

passam os dias e sentes que és um perdedor
já não consegues saber o que tem ou não valor
o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
pra dares lugar a outro no teu banco do jardim

mas a alma não tem idade. a alma não comemora aniversários. a alma vive os dias, sente as emoções, chora as horas, sempre da mesma forma.

no ano dos meus noventa anos quis oferecer a mim mesmo uma noite de amor louco com uma adolescente virgem”, escreve-nos Gabriel García Márquez , no seu «Memória das minhas putas tristes». li o livro numa tarde: um elogio à vida, ao amor. o colorido de uma vida, carregada de memórias, enrugada de boémia, rendida aos prazeres do amor. quente, doce, de chocolate. sem idade. sem sexo. só amor.

e não resisti, uma vez mais, à voz da Mafalda Veiga:

o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti
pra não ver a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um velho sentado num jardim

velhos são os trapos. e os trapos não sofrem. os trapos não amam.
Mafalda Veiga, Velho,
sentado num banco do jardim

11 comentários:

Anónimo disse...

Mafalda Veiga é realmente...no words...adorei o teu post...mesmo.. :)

uivomania disse...

Plenamente de acordo. Numa altura, em que o espartilho do políticamente correcto aperta e, que o espaço para a liberdade individual perde terreno para uma prometida liberdade colectiva... chegam-nos odores despudorados, que nos fazem lembrar sabores genuínos de frutos biológicos apanhados da árvore. Elevam-se as emoções para além da pedófilia, esquece-se este cadilho de um sem fim de regras que sustentam morais diversas e sente-se a alma voar. Gabriel Garçia Marques é despudorado, porque não é hipócrita. Chama os bois pelos nomes, diz que lhe arde o olho do cú, ao mesmo tempo que abre espaço para o amor sublime, que esta civilização parece ter esquecido... até na forma como trata e arruma fora de vista, os "velhos"!
Saúde!

ana.in.the.moon disse...

Estamos vivos enquanto formos capazes de reinventar o amor!

Patrícia Mota disse...

E ai esta o proximo livro que vou ler. Já esta na minha mesinha de cabeceira a espera de uma noite fria em que nao me apeteça dormir. E quem sabe se nao vou mesmo por o CD da Mafalda Veiga a tocar, como ponho em tantas noites mais.

Quanto a idade... é triste esperar o fim e ver as horas a correrem, como se cada suspiro fosse o ultimo.

Beijo

BlueShell disse...

Um texto sublime e oportuno...uma foto espectacular...que mais posso dizer????
Grata pelas palavras ternas...
Uma Páscoa abençoada para ti e os teus. Beijo, BShell

SL disse...

Velhos somos nós quando esquecemos tudo aquilo que nos faz felizes, o amor, os sorrisos, as brincadeiras, as palavras bonitas...
Ninguém é velho só pelo passar do tempo. A Mafalda Veiga é do melhor que nós temos...adorei o post.
Jinhos...vou lê-lo à minha avó, ela vai ficar vaidosa!

isa xana disse...

velhos somos, não quando a idade deixa marcas no nosso corpo, massim quando deixamos de amar e sentir e querer viver.

muito belo o teu post. mesmo muito belo.

beijo enormeeee

Abc Dário disse...

É sempre uma honra ser linkado por blogs excepcionais, como este. As letrinhas agradecem.
Obrigado pelos comentários.
Uma boa Páscoa cheia de ovos e coelhos dançarinos.
Abraços.

Paulo Dâmaso disse...

O Largo festeja o primeiro aniversário, no dia 8 de Abril, e procura um Cartaz que assinale a data. Concorre e ganha um prémio surpresa.
Vai ao LARGO DA MÁ LÍNGUA (quac-quac.blogspot.com) e e vê como participar.

Anónimo disse...

eu diria mais: a idade é um posto....difícil de atingir. Também acho que o livro do Garcia Marquez é uma perdição... e qto à mafalda... pode ser que a possamos ver no CAE um dia destes ;-) beijo.

Anónimo disse...

Olá!

Já li o livro, li num adormecer... É muito bom, já estava com saudades de Gabo! Depois de ler toda a sua obra, é um terror esperar por mais!

A fotografia do banco é muito boa? É Tua?

~o outro

(não conhecia o teu blog, vim aqui parar pelo blog do vab)