segunda-feira, novembro 01, 2004

todos os santos

Lá vão eles todos catitas de mão dada como as crianças no jardim-escola. Só lhes falta mesmo o bibe de cor uniforme, seja ela qual for, azul, verde, castanho ou mesmo amarelo. Estes, os que vão de mão dada, usam trajes mais sumptuosos de acordo com a sua categoria e com a sua autoridade. Afinal, hoje é o dia deles. De todos eles. Notaram alguma inveja nas palavras do actor? Pois é, ele não consegue disfarçar, mas não se conforma com estas injustiças humanas. Ou serão divinas? Afinal todos eles, os santos claro, têm um dia cada um e ainda lhes cabe um dia para todos eles juntos! Ora bolas, então e nós os actores? Também podemos ser santos, basta ser esse o entendimento do autor. E quando é o nosso dia? 27 março, dia mundial do teatro? Pois sim, esse é do teatro e do actor quando é?
Mas voltemos aos santos, os que vão de mão dada, todos eles ao cemitério. Vão velar os mortos, aliás como toda a humanidade. Carregam fardos de flores, inflacionadas no preço como mandam as economias e no valor sentimental como mandam as almas. Almas essas que durante o ano vagueiam ao lado delas, malmequeres, rosas, cravos, camélias, gerberas, gladíleos e tantas outras, de todas as cores e feitios, indiferentes, felizes ou tristes. Vem lá o dia, este o dia de todos os santos, e todos, como por magia, se recordam dos seus mortos e vão velá-los. Coitados dos pobres defuntos, nem depois de mortos se livram da hipocrisia da sociedade.
E os santos? Esses lá vão felizes, indiferentes a tudo. Afinal hoje é o dia deles e para alguma coisa são santos.
Ricardo Manuel Santos

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