sexta-feira, janeiro 28, 2005

rosto partido

o céu azul também se pinta e chora. quando assim tem de ser.

não aceito escrever para a morada que me indicas. não posso aceitar. a prisão em que habitas não é lugar para ti. vês o sol aos quadradinhos, não é? vês a mesma porta que se abre e fecha todos os dias, não é assim? e desesperas. mas porque não fazes um esforço e sais daí?

acumulas em ti a angústia dos dias. não vives com medo. não aceitas a minha mão. nem a de ninguém. e vejo-te sofrer presa a ti. até quando vai a tua pele suportar as lágrimas que teimas em guardar?

um dia o teu rosto há-de partir. e nessa altura pode ser que já não reste ninguém para apanhar os cacos. é assim tão difícil chorar?

mais um olhar

9 comentários:

BlueShell disse...

Agradeço, Ricardo, a visita e as palavras, num momento de dor e angústia como este que atravesso. Obrigada, Aceita um beijo, BlueShell

SL disse...

Fantástico...quantos rostos se partem por ai sem ter quem lhes segure os pedaços...
Um texto que me fez reflectir.
Jinhos...obrigada pelas palavras...exageradas, mas que me fazem maravilhas.

Patrícia Mota disse...

Ricardo, chorar não é dificil. É incontrolavel. Acontece que muitos de nós não temos a coragem de chorar ao mundo... Não podes cobrar das pessoas essa coragem de mostrar fraqueza.

Não sou boa para comentar estes textos, porque estou muito enterrada em mim. Mas percebo quem se deixa estar a margem da vida, a espera de rebentar...

Beijinho

isa xana disse...

para variar, gostei do teu texto.. é triste, mas reflexivo. acho que a fotografia completa muito bem o texto. boa escolha:)
bêjito

Å®t Øf £övë disse...

Passei para te desejar um bom fds.
Abraço.

uivomania disse...

Por vezes o rosto não parte mesmo. Muita gente não se consegue libertar. Há presos, que serraram as grades, fizeram buracos no tecto, muniram-se de cordas e varas mas... no momento da verdade, acabaram por ficar na cela à espera da sopa de que tanto se queixam... mas que lhe é dada, pelo buraco da porta, à hora convencionada!

someone disse...

as vezes a prisão é a segurança encontrada por muitos.

beijos e bom fdsemana

Sara Mota disse...

Óptimo começo, brilhante final.
O choro de quem gostamos é simplesmente mágico. Vive-se, hoje, porque pode não haver o "amanhã".

:)*
Sara M.

ana.in.the.moon disse...

Às vezes é mesmo muito difícil chorar. Há alturas em que o desespero não aceita a mão de ninguém e permanece só nosso, num turbilhão solitário que espera apenas pelo momento em que o rosto se parte. Isso não quer dizer, porém, que esse mesmo rosto não veja a mão que se estende e que esse desespero não seja aliviado por essa mesma mão.