quarta-feira, novembro 09, 2005

a alegoria do poeta

«Em breve há que atingir o vazio / da memória e nela persistir. Até que / livre das máscaras que nos corpos fui / venha, última, a surdez das vozes».
Orlando Neves

vinha escrito numa página de jornal, a preto e branco [como um verdadeiro jornal], sujando os dedos de carvão. não era destaque, mas, pelo menos, vinha noticiado: a morte das palavras. desconheciam-se as causas e os locais. apenas aquela certeza inaudita.

no dia seguinte, o jornal não se publicou. também não houve processo instrutório, julgamento ou acusação. o mundo calou-se. a voz perdeu o tom, as coisas perderam nome e os significados deixaram de fazer sentido. como num fado mudo, a canção do nada invadiu o céu, as poças de água e as chávenas do café.

suicidaram-se os poetas, choraram, desolados, os que sonhavam e os loucos deixaram de se sentir crianças. no silêncio dos dias seguintes o incógnito assassino viu-se, sem saber porquê, a morrer de solidão.

8 comentários:

BlueShell disse...

...porque as palavras são importantes, vês?
Sem elas...o vazio!
Gostei de te ler.

E o meu poema também é para ti, claro!
Figueira da Foz...não há ano nenhum que aí não passe uns diazitos. Está-se bem.

Beijo também para ti da

BlueShell

Anónimo disse...

Olá! Gostei muito de visitar o teu blog!
*^*^*^

Conceição Paulino disse...

um belísimo texto a complementar uns versos do Orlando Neves k não tarda faz um ano k nos deixou. Bjs e;)

Raio de Sol disse...

as pessoas dão tão pouca importância ás palavras... só damos conta do que é verdadeiramente importante quando o perdemos... o teu texto triste e belo deixou-me arrepiada... um beijo em jeito de saudade...

Anónimo disse...

Tu és o génio das palavras.

Estrela do mar disse...

...passei para deixar um beijinho e desejar uma boa semana...logo que me sentir melhor, voltarei...

Conceição Paulino disse...

boa semana. Bjs de luz

LUA DE LOBOS disse...

o que nos restará quando o último poeta for silenciado?