sexta-feira, dezembro 31, 2004

na hora do balanço

apanhado de surpresa pela fúria dos acontecimentos, acabei engolido pelo tempo. quando dei por mim já lá ia uma semana inteirinha sem plateia, sem teatro, sem palavras. apenas a vida. nua e dura. o trabalho, as reuniões, as iniciativas, os preparativos para tudo e para nada, a busca de sonhos, a realização de outros, horas, minutos, segundos tão fugazes como a vida. e hoje, qual peça trágico-cómica, dizem-me que acabou mais um ano. e assim é.
não gosto de balanços, principalmente quando o passivo assume maior significado do que o activo e os capitais próprios são escassos. nas empresas como na vida ter um balanço destes não é nada, nada bom. contudo, felizmente (à que dar as graças a quem as merece!), o balanço dos meus últimos 366 dias não sofre daquele mal.
profissionalmente, separemos duas fases. o primeiro semestre foi para esquecer. a angústia da incerteza, o diz que disse crónico, a falta de solidariedade e companheirismo, a ruptura da equipa... e estou eu de férias no Luxemburgo e na minha caixa do correio cai a minha carta de cessação de contrato. férias estragadas? quase. felizmente, após o regresso, e lá entramos no segundo semestre, as coisas tomam outro rumo. uma nova administração assume funções, a equipa sofre reajustamentos e (à que dar graças a quem as merece) lá continuei, a bem da verdade, nada pior do que antes. há que admiti-lo: muito bem mesmo!
pessoalmente, as coisas dividem-se também em duas fases temporais. curiosamente, igualmente no primeiro e no segundo semestre. no primeiro, os momentos de prazer, a suavidade da tua pele, o olhar o mar a teu lado, o saber-te ali sempre que precisava, fizeram desses loucos momentos suaves recordações. depois as coisas tinham que ser definidas e tu acabaste longe. depois disso apenas a beleza de um rosto, o carinho de outras palavras, e a verdade é que, acredito eu, por acordares todos os dias à distância de quilómetros, cá estou sozinho. triste? quase.
os amigos são a compensação de tudo. permanecem os mesmos. iguais a si próprios. loucos, determinados, carinhosos, amigos e pronto. a vocês, aos que estão longe e aos que estão perto, dedico o meu ano. obrigado por tudo.
e o balanço resume-se assim: o activo engloba a profissão, a realização pessoal e a concretização de alguns sonhos e o passivo acumula as despesas com o campo emocional. os capitais próprios assumem no meu balanço o enorme peso da amizade. e essa (à que dar graças a quem as merece!) dá-me equilíbrio para viver feliz. em consciência, de bem com os outros e com o mundo.
venham mais 365 dias. mais palavras, mais cenários, mais teatro, mais plateias. cá estou eu para os viver.

1 comentário:

Anónimo disse...

Espero que a tua vida seja tão apaixonante como a tua escrita. Beijos fofos. Ana (dreamingabout)